sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Epilepsia infantil, convulsões febris e risco posterior de TDAH


De acordo com um artigo da Revista de Neurología, a epilepsia é uma das causas mais frequentes de consulta em neurologia pediátrica e sua prevalência na população em geral é estimada de 2,7 a 40 a cada 1.000 habitantes. Fernando Mulas et al., autores do artigo, relatam que em crianças e adolescentes com epilepsia, se encontrou comorbilidades frequentes com vários problemas psiquiátricos, como o autismo, depressão e ansiedade, embora seja mais frequentemente o transtorno por déficit de atenção/hiperatividade (TDAH); os estudos situam a prevalência de TDAH em 30-40% dos pacientes com epilepsia.
Ademais, de acordo com vários estudos, há um 6,1-30% das crianças diagnosticadas com TDAH que apresentam registros eletroencefalográficos e problemas de epilepsia. Embora que prevalência de TDAH em crianças com epilepsia é mais alta que na população em geral (12-17% de acordo com estudos).
Os autores argumentam que várias hipóteses têm sido postuladas sobre os fatores que podem explicar a ocorrência mais frequente de epilepsia e TDAH, entre as quais mencionam que a epilepsia e TDAH compartilham uma vulnerabilidade neurobiológica subjacente; a existência de fatores genéticos comuns e interação com fatores ambientais, incluindo os psicossociais; e os efeitos em longo prazo das crises epilépticas, gravidade do tipo de epilepsia, atividade epileptiforme subclínica e efeitos colaterais dos medicamentos antiepilépticos.
Por sua vez, Elin Næs Bertelsen et al., realizaram uma investigação publicada em Pediatrics, na qual estudaram a relação entre epilepsia, convulsões febris e TDAH, já que são afecções do sistema nervoso central e compartilham fatores de risco comuns.
O objetivo da equipe foi examinar a associação em um estudo de cohorte nacional da Dinamarca, com acompanhamento prospectivo e ajuste por fatores de confusão selecionados, sugerindo que a epilepsia e as convulsões febris estão associadas com TDAH subsequente.
Para isso, seguiram até o ano de 2012 a uma cohorte populacional de todas as crianças nascidas na Dinamarca entre 1990 e 2007. Calcularam as razoes de taxas de incidência (RTI) e intervalos de confiança de 95% (IC 95%) para o TDAH mediante uma análise de regressão Cox, comparando crianças com epilepsia e convulsões febris com aquelas sem essas afecções, ajustado para fatores de risco socioeconômicos e perinatais, bem como por antecedentes familiares de alterações neurológicas e psiquiátricas.
A equipe seguiu um total de 906.379 indivíduos durante 22 anos (10 milhões de pessoas-ano de observação); 21.079 indivíduos desenvolveram TDAH. As crianças com epilepsia apresentaram uma RTI de TDAH com ajuste completo de 2,72 (IC 95% 2,53 - 2,91) em comparação com as crianças sem epilepsia.
Em forma similar, em crianças com convulsões febris, a RTI de TDAH com ajuste completo de 1,28 (IC 95% 1,20 - 1,35). Em indivíduos tanto com epilepsia como convulsões febris, a RTI de TDAH com ajuste completo foi de 3,22 (IC 95% 2,72 - 3,83).
Assim, Bertelsen e seus colegas concluem que seus resultados indicam uma forte associação entre epilepsia infantil e, em menor grau, convulsões febris e posterior desenvolvimento de TDAH, mesmo após o ajuste por fatores de risco socioeconômicos e perinatais e antecedentes familiares de epilepsia, convulsões febris ou transtornos psiquiátricos.
Referências:
Elin Næs Bertelsen et al, Childhood Epilepsy, Febrile Seizures, and Subsequent Risk of ADHD. Pediatrics. July 2016
Fernando Mulas et al, Manejo farmacológico del trastorno por déficit de atención/hiperactividad con metilfenidato y atomoxetina en un contexto de epilepsia. Revista de Neurología. 2014; 58 (Supl 1): S43-S49
Fonte: Medcenter Medical News


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